Não entendo, todos os dias passo
por ti e todos os dias vejo-te a observar o mar. Em vez de te comportares como
as outras pessoas, atarefadas e cheias de pressão, és exatamente o
oposto. Serás uma estátua do olimpo esquecida no mundo terrestre? Impossível.
Não é possível que alguém se tenha esquecido de ti. Esse teu olhar penetrante
cor de limão, essa tua boca carnuda, esse teu cabelo angelical são impossíveis
de esquecer. Tens um ar distante, como se o teu corpo estivesse despromovido de
alma, essa, encontra-se no mar junto dos teus olhos e do teu ser.
Sendo assim, leva-me contigo. Não
quero mais estar na terra, quero permanecer infinitamente imóvel como tu, não
quero pensar no futuro, quero parar. Mas antes, deixa-me olhar-te mais uma vez
para quando me transformar numa estátua como tu, essa ser a última imagem
presente na minha memória. Na memória apenas, porque nos meus olhos irá ficar
para sempre o reflexo do mar, aquele que guarda todas as lágrimas e todos os
sofrimentos de Portugal.