A tempestade passou e esqueceu-se
de me levar. O meu corpo entrou em conflito porque não conseguiu expulsar a
angústia que permanece cravada dentro de mim, foi repugnante. As minhas lágrimas
foram encurraladas, os meus órgãos dilataram, os meus ossos enfraqueceram, os
meus músculos murcharam, o meu coração foi racionalizado, … Mesmo assim, mantive-me
contida e reservada. Não sabia o que dizer, gritar talvez tivesse sido a melhor
opção, mas para quê elevar a voz num mundo em que as pessoas sofrem todas de
surdez? As minhas mãos estão trémulas, estou submersa em dores, a tristeza
levou-me para outro patamar, lugar esse onde eu nunca tinha estado. Não sei
nada, não sei quem sou, estou sozinha. Vivo na ansia do não saber o que sei e
apaziguo a minha alma apenas com a incógnita.
Hoje a batalha é diferente,
tornou-se mais perigosa e mortal, não consigo lutar mais contra o meu cérebro,
estou fraca e cansada, quero desligar por breves momentos. Só para poder
apreciar as nuvens e o sol a bater nas folhas das árvores. Desconheço a cor das
ruas e a cara das pessoas, deixou de haver alegria na minha vida. Agora, o que
resta é o ar, e mesmo esse parece abandonar-me nos momentos em que os soluços
ficam presos na minha garganta que berra com dor e saturação. São as
metamorfoses, agora entendi, são elas que me provocam esta dor de pensar, esta
saturação de tudo e de todos, foram elas que me levaram a perder a minha alma.
Ela que é infinita atacou-me todas as células contaminando-as e levando-me à
morte. Foi assim que fiquei presa dentro de mim, foi assim que não encontrei a
saída do meu labirinto, foi assim que morri. A minha alma matou-me. Maldita.